Povo Paiter Suruí

Data da Publicação: 04/09/2017


 Povo Paiter Suruí

 Texto de Joaton Suruí

 

     O meu Povo Paiter Suruí vive na Terra Indígena Sete de Setembro, localizada entre os estados de Mato Grosso (no município de Rondolândia) e de Rondônia numa área de mais de 247 mil hectares. O nosso primeiro contato com não indígenas ocorreu em 1969 e, de lá para cá, estamos convivendo e aprendendo a viver com a população não indígena que tem causado profundas mudanças e alterações sociais, econômicas e culturais em nossa identidade étnica. A história do nosso contato foi marcada por violências, discriminações, preconceitos e desrespeitos a nossa identidade cultural. Trata-se de um período que para nós foi marcado pela luta em defesa do nosso território e costumes. Por várias vezes tivemos nossa terra ocupada por colonos, pecuaristas, mineradores e madeireiros, que não respeitam nossa visão cosmológica de mundo. Ainda hoje sofremos aliciamento dos colonizadores invasores que querem, a todo custo, extrair e comercializar as riquezas naturais do nosso território. Hoje passamos por grandes dificuldades, tanto para o nosso sustento como com a saúde, buscamos apoio através da associação Gapgir do Povo Indígena Paiter Suruí e outros órgãos do governo para desenvolvermos projetos sustentáveis que garantam o nosso sustento. Temos resistido a todo tipo de influências da sociedade não indígena, objetivando manter a qualidade das nossas tradições culturais. Falamos a língua Paiter Suruí, tronco Tupi, família Monde, que apesar de toda a pressão a que estamos submetidos ainda conseguimos manter a nossa língua viva. Apesar das inúmeras dificuldades, os nossos jovens, professores, agentes de saúde e lideranças aprenderam a falar a língua portuguesa para poder dialogar com os nãos indígenas. Neste contexto de resistência aos ataques dos colonizadores, temos 27 aldeias organizadas. O acesso a essas aldeias se dá por estrada de chão a partir dos municípios de Cacoal, Espigão do Oeste (RO) e Rondolândia (MT). As aldeias ficam distantes uma da outra em cerca de 20 a 30 quilômetros. A principal via de acesso às aldeias é a famosa rodovia Brasileira (BR) 364 que muitos problemas têm causado a nossa existência. A consequência da abertura desta rodovia que passa próximo ao nosso território trouxe várias doenças, como sarampo e rubéola entre outras que provocou a morte de várias pessoas do nosso povo. Foi no período da abertura desta rodovia que a maior parte dos meus parentes morreram. Mesmo assim resistimos ao desenvolvimento e renascemos mais fortes para enfrentar às influências da sociedade não indígena. Apesar de toda a pressão a que estamos submetidos temos uma população de aproximadamente, 1.400 indígenas. O nosso crescimento passou acontecer a partir de 1989, quando os índices de mortalidade apresentaram baixas consideráveis. Antes do contato, os mais velhos estimam que fossem cerca de 3 mil Suruí. Com o contato com a sociedade não indígena o índice de mortalidade aconteceu e foi reduzido a nossa população chegando a cerca de 300 pessoas na década de 1970. Nosso Povo é organizado em grupos isogâmicos patrilineares – trata-se de um sistema onde organizamos os parentes através da linhagem paterna. Isto significa que se um homem casar com uma mulher, os sobrenomes dos filhos serão repassados pelo pai. Neste sentido temos quatro clãs Gapgir, Gamep, Kaban e Makor. O clã com maior número de pessoas é o Kaban, e o menor é o Makor. Todos os clãs são poligâmicos – organização social onde o homem tem mais de uma mulher. Mantêm o casamento avuncular, isto é, a regra em que o homem se casa com a filha de sua irmã. Para a manutenção da nossa cultura buscamos nas instituições escolares um dos meios para preservação da nossa identidade cultural. Na minha aldeia a organização da educação escolar indígena pelo Estado brasileiro teve início em 1975 com a criação da Escola Indígena, Sertanista José do Carmo Santana, criado pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A partir de 1992 a responsabilidade da escola passou a ser da Secretaria de Educação do Estado de Rondônia (SEDUC). Em todo território temos 10 escolas indígenas. A organização destas instituições escolares e da área de saúde são as principais fontes de geração de emprego e renda para o nosso Povo. Isto porque são as únicas instituições do estado brasileiro que geram renda para o nosso povo que ainda sofre sobremaneira a falta de melhoria de qualidade de vida. Considerando que o nosso território possui valores culturais diferenciados em relação ao uso dos recursos naturais, pois não usamos os recursos naturais para extrair o lucro, mas para assegurar a sustentabilidade da terra.

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