Data da Publicação: 04/08/2021
Histórias Kanoé
Os Kanoé nasceram do barro.
- Kanoé quer dizer, é só um pedaço isso aí. Kanoé eles moram na beira do barreiro. Então, nós chamamos Kanoé. Sabe por quê?
Nós tava no antigo...
Mulher estava buchuda (grávida). Aí ela fala:
- Meu marido, eu não vou descansar (parir) aqui não!
- Mas, onde tu vai descansar?
- No mato...
Aí saíram com a mulher, chegaram na beira do barreiro...boniiito...
Aí ela disse assim, ela que diz:
- Pode fazer casa aqui!
Aí o marido tirou palha, fez casa, mais cobriu. A casa deles pequena, como daqui ali. Aí mulher ficou buchuda, mulher dele.
Aí disse assim:
- Bom, quando tu descansar, tu diz assim:
- Como é o teu nome?
- Meu nome é Oroé! Oroé! (barro)
- Oroé moré ĩkeré...Oroé...Você descansou na beira do barreiro, então nome de vocês vai ser Kanoé.
- Kanoé?
- É... Kanoé!
Narrador: Francisco Kanoé, morador da Aldeia Ricardo Franco, Terra Indígena Rio Guaporé;
Transcrição: Fernando Kanoé, professor indígena e pesquisador.
Esboço de como era uma aldeia Kanoé
Por Fernando Duarte Kanoé
Professor Indígena, Graduado em Licenciatura Indígena Intercultural – Universidade Federal de Rondônia (DEINTER-UNIR).
Na atso (aldeia), cada família deveria fazer sua própria ñomũ (roça), a meia distância na periferia da maloca, mas também trabalhavam em sistema de mutirão, ajudando uns aos outros nas tarefas mais pesadas.
Nas roças, as famílias cultivavam três espécies de Atiti (milho branco, preto e vermelho), txuá (macaxeira), epykwã (amendoim), kametá (fava), vavu (batata), ivo (cará), popotxi (taioba), tovekwá (cana-de-açucar), oti (algodão) e äj (tabaco).
Além disso, criavam animais domesticados como tamũ (patos), urä (porcos) e eventualmente alguns animais de estimação.
Uma Aldeia Kanoé, Terra Indígena Rio Guaporé, no ano de 1962. Desenho de Fernando Kanoé a partir das suas reminiscências, pensamentos que não são esquecidos, um passado que se conserva na memória.
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